Quando o banco em que tinha conta negou seu pedido de empréstimo, em 2005, o empresário Sérgio All, 44, disse ter se sentido desvalorizado, mas teve uma ideia: encontrar solução para desburocratizar o acesso a serviços bancários. Em novembro de 2017, ele e sua sócia Fernanda Ribeiro, 35, ambos negros, abriram a fintech Conta Black, em São Paulo. Entre as ações para desburocratizar o acesso a serviços bancários, a fintech oferece abertura da conta por meio do celular, com envio de documentação básica (RG e comprovante de residência), e em poucos minutos. O público-alvo são as classes C, D e E.
“Fui correntista por mais de dez anos da mesma instituição, movimentando muito dinheiro e contratando serviços que o banco me oferecia. Mas, no momento em que precisei, mesmo apto para o crédito, a resposta foi não. A solicitação era compatível com a minha movimentação financeira na época”, disse ele, que não revela o nome da instituição bancária. O empréstimo solicitado era no valor de R$ 50 mil. Na época, ele era dono de uma agência de produção de sites e precisava dos recursos para atualizar os equipamentos da empresa.
“O grande ‘start’ foi quando comecei a me relacionar com outros empreendedores negros e da base da pirâmide e percebi que todos tinham a mesma sensação de desvalorização”, declarou All. A fintech tem hoje seis sócios, sendo quatro negros.
45 milhões de “sem banco”
“Nossa meta é trazer para a fintech essa população que quer acesso ao crédito, mas não tem conta em bancos”, afirmou. A Conta Black tem cerca de 5.000 clientes em todo o país e expectativa de chegar aos 50 mil usuários até o final de 2020. De acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva divulgada em outubro, há no país cerca de 45 milhões de pessoas (com mais de 16 anos) que não possuem conta bancária. Deste total, 69% são negros e 86% são das classes C, D e E. Mesmo sem acesso a crédito e serviços bancários, essa parcela da população movimenta cerca de R$ 817 bilhões por ano na economia, diz o estudo. O investimento inicial na fintech foi de R$ 180 mil. Faturamento e lucro do ano passado não foram revelados.
Fintech tem ações de educação financeira
O fundador da Conta Black diz acreditar que, além da inclusão dessas pessoas no sistema financeiro, a preocupação da fintech é promover a educação financeira dos clientes para uso consciente dos recursos. Para isso, a fintech dá orientação aos clientes sobre análise de finanças, como disponibilizar controle de despesas via app e promover workshops.
Em julho, a fintech deve lançar um canal e um blog com material sobre educação financeira. Um dos benefícios da Conta Black, segundo All, é direcionar o valor proporcional de 2,5% a 10% da taxa bancária ou serviço para investimento e, após 13 meses, devolver esse dinheiro corrigido na conta do cliente. O preço dos serviços cobrados pela fintech varia de R$ 1,50 a R$ 10. Para ter escalar e aumentar sua base de clientes, a fintech recebeu este ano aporte de um investidor-anjo.
“O valor nos auxiliou para contratação de pessoas e investimento em estrutura, marketing e tecnologia, por exemplo”, afirmou. O nome do investidor-anjo e o aporte feito não foram revelados. “O investidor-anjo é um estrangeiro negro”, disse.
No final do ano passado, a fintech lançou bandeira de cartão Mastercard, carteira de microcrédito e aplicativo para iOS e Android (disponíveis apenas para quem entra no site e solicita o convite para ser cliente).
Informações: Portal Uol (economia)