Catalão sedia Encontro Cultural de Congadas e celebra 149 anos de tradição goiana

Congadas

No dia 8 de novembro, a cidade de Catalão será palco de um dos mais vibrantes encontros da cultura popular goiana: o 2º Encontro Cultural de Congadas do Estado de Goiás. O evento promete reunir ternos e grupos de Congada de várias cidades, celebrando uma tradição centenária que une fé, resistência e identidade afro-brasileira.

A Congada é uma manifestação cultural e religiosa profundamente enraizada na devoção a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia. Mistura de fé, dança, música e história, ela tem origem nas celebrações do Reino do Congo, na África, onde povos se reuniam anualmente para prestar homenagens ao rei e à rainha.

“A Congada é uma manifestação cultural e religiosa de matriz africana. No Brasil, os negros escravizados associaram essa festa à devoção do Rosário. A primeira irmandade que se tem registro é a de Ouro Preto”, explica Fabrício Alves, capitão do Catupé Cacunda Vermelho e Branco, de Três Ranchos.

Entre os guardiões dessa tradição está Ozark Rosa de Almeida, conhecido como o General das Congadas de Ouvidor, que começou a tocar tambor aos 9 anos e hoje lidera o Terno de Congo Nossa Senhora do Rosário. “Ensinamos que, quando vestem a farda para louvar Nossa Senhora, não são pessoas quaisquer. São escolhidos por ela”, afirma com orgulho.

Em Catalão, Silésio Teixeira da Silva, presidente da Irmandade local, reforça o poder de resistência da Congada ao longo da história. “Negro no tronco apanhava, sofria, mas nunca perdeu sua fé em Deus e na Virgem Maria”, recorda. Para ele, a devoção também é herança. “É dom. Nossa Senhora escolhe. Meu avô foi capitão, meu pai não foi, mas eu fui. É legado familiar.”

Cada grupo — chamado terno — mantém uma estrutura militar simbólica, com general, capitães, fiscais, alferes e soldados. Os trajes coloridos e os instrumentos são confeccionados artesanalmente pelos próprios participantes. “O povo vê o terno bonito dançando, mas não imagina o esforço por trás. O capitão chega cansado do trabalho e ainda precisa cuidar do grupo. Mas, quando vê o terno na rua, a emoção compensa tudo”, diz Silésio.

Nos últimos anos, a presença das crianças nos grupos tem crescido, garantindo a continuidade da tradição. “Quando você vê o terno cheio de criança, sabe que o legado não vai morrer”, comemora Silésio. Fabrício completa com poesia: “A Congada é como uma bananeira — cresce, dá fruto, morre, mas do lado já nasce outra. Nosso ciclo é infinito.”

O fortalecimento dessa herança também tem chegado às escolas. Em setembro, cidades como Ouvidor e Três Ranchos receberam oficinas sobre instrumentos, trajes e danças tradicionais, com a participação do consultor da Unesco no Brasil, Luciano Gentile, durante o pré-lançamento do encontro.

Para Fabrício, as novas tecnologias têm papel fundamental na preservação da Congada. “Hoje, alguém que nunca viu uma Congada pode conhecer pela internet. Recebemos convites de todo o Brasil. Transformamos a modernidade em ferramenta para promover a tradição.”

O encontro em Catalão promete uma programação diversificada, com cortejos, apresentações culturais, comidas típicas e atividades abertas ao público. “O que vai ficar na história é esse encontro. Em Catalão, a Congada se divulga sozinha, porque o povo vive e respira essa tradição”, diz Silésio.

E, no coração de todos os participantes, o sentimento é o mesmo. Como define Ozark: “admiração e responsabilidade”. Fabrício encerra com a essência do evento: “Fé. Porque quem tem fé tem tudo. Quem tem fé tem amor, segue tradições e vence as batalhas do dia a dia.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *