Categoria mais alta do programa de suporte ao esporte olímpico e paralímpico do Governo Federal garante repasses mensais que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil por mês
As palavras de Guilherme Maia Kabbach dão a exata noção do caráter histórico que a lista dos 312 contemplados com a Bolsa Pódio trouxe para o esporte brasileiro por meio da Portaria Portaria Nº 47, publicada nesta terça-feira, 23 de abril, no Diário Oficial da União: “Minha carreira inteira venho sinalizando a luta pelo reconhecimento e valorização da cultura surda e pelo direito de partilhar espaços de convívio. Esse feito reforça que o esporte é para todos e aproxima mundos, pois a igualdade é uma questão fundamental na construção de uma sociedade diversa. Exceto por não ouvir, o surdo pode fazer absolutamente tudo”.
Estou extremamente feliz, pois ser atleta de alto rendimento exige muito financeiramente e esse auxílio é de suma importância para despesas, como alimentação adequada, suplementação, material esportivo, médico. Minha maior emoção é por ser o primeiro atleta surdo a ser honrado com o Bolsa Pódio”
Guilherme Maia, maior atleta da historia da natação brasileira para surdos
Maior destaque da natação no programa esportivo surdolímpico do país, Guilherme integra a lista de modalidades contempladas pela primeira vez, já que o Edital nº 2, de 28 de dezembro de 2023, assegurou que passaram a ter direito ao Bolsa Atleta esportistas gestantes e puérperas, atletas surdos e guias, calheiros, pilotos e auxiliares do esporte paralímpico, que até então não tinham direito às bolsas. A Bolsa Pódio é a categoria mais alta do Bolsa Atleta.
“Estou extremamente feliz, pois ser atleta de alto rendimento exige financeiramente e esse auxílio é de suma importância para despesas, como alimentação adequada, suplementação, material esportivo, médico. Minha maior emoção nesse momento é por eu ser o primeiro atleta surdo a ser honrado com o Bolsa Pódio”, ressalta o nadador, que já conquistou cinco medalhas na Deaflympics, a Surdolimpíada Mundial: uma de ouro, uma de prata e três de bronze. O ouro veio com recorde mundial nos 200m livre em 2017, na Turquia.
Além dele, Renata Faustino da Silva, do badminton surdolímpico, também foi contemplada com a Bolsa Pódio. A lista traz ainda quatro atletas-guia e assistentes do esporte paralímpico que terão direito ao benefício pela primeira vez: Nicolle Borges, do paraciclismo estrada; e Oscar Carvalho, Renata Santos e Roberto Ferreira, todos da bocha paralímpica.
NÚMEROS – O Governo Federal, por meio do Ministério do Esporte, destinou R$ 18,3 milhões para o pagamento das quatro categorias do Bolsa Pódio. Eles vão receber uma bolsa que varia de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais pelos próximos 12 meses. Com a divulgação dos nomes, o próximo passo é assinar e encaminhar o termo de adesão.
CRITÉRIOS– Podem ser indicados ao Bolsa Pódio atletas que estão entre os 20 primeiros do ranking mundial ou do ranking olímpico e paralímpico de modalidades individuais que compõem o programa dos Jogos Olímpicos, Paralímpicos e dos Jogos Surdolímpicos. Os atletas elegíveis são avaliados por representantes da Secretaria Nacional de Esportes de Alto Desempenho do Ministério do Esporte e das organizações nacionais de administração e regulação do esporte, além do Comitês Olímpico do Brasil (COB), do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS).Principais números do edital da Bolsa Pódio
MODALIDADES – Entre os esportes olímpicos foram selecionados 104 atletas de águas abertas (maratonas aquáticas), atletismo, boxe, canoagem slalom, canoagem velocidade, ginásticas artística, de trampolim e rítmica, luta greco-romana, judô, levantamento de peso, natação, skate (park e street), remo, skeleton (modalidade de inverno), surfe, taekwondo, tênis, tiro com arco, triathlon, vela e vôlei de praia. No esporte paralímpico, a lista traz 202 representantes de atletismo, bocha, tiro, cross-country, halterofilismo, judô, natação, paracanoagem, paraciclismo, parataekwondo, remo, snowboard, tênis de mesa e tênis em cadeira de rodas. Somam-se a eles os dois contemplados no programa surdolímpico e os quatro atletas-guia. Ao todo, a lista contempla 166 homens e 146 mulheres.
Ana Marcela Cunha: campeã olímpica nas maratonas aquáticas. Foto: Breno Barros / Min. Esporte
FUNDAMENTAL – Maior atleta da história dos mundiais de águas abertas (maratonas aquáticas) e ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, a baiana Ana Marcela Cunha classifica a Bolsa Pódio e o Bolsa Atleta como instrumentos fundamentais na carreira de um esportista de alto rendimento. Atualmente ela treina na Itália, na reta final de preparação para as Olimpíadas de Paris, que começam no dia 26 de julho.
Esse apoio foi muito importante para que eu chegasse à conquista da medalha de ouro olímpica em Tóquio e continua sendo fundamental para todos os atletas. É um suporte financeiro muito importante, porque me permite investir nas minhas reais necessidades
Ana Marcela Cunha, campeã olímpica nas maratonas aquáticas
“Esse apoio foi muito importante para que eu chegasse à conquista da medalha de ouro olímpica em Tóquio e continua sendo fundamental para todos os atletas. É um suporte financeiro muito importante, porque me permite investir nas minhas reais necessidades, seja na compra de um equipamento, na compra de um maiô tecnológico, de um suplemento ou auxiliando na alimentação, por exemplo. Eu tenho a tranquilidade de usar esses recursos em prol da minha carreira”, afirma Ana Marcela Cunha.
EXCELÊNCIA – O ministro do Esporte, André Fufuca, celebrou a inclusão dos atletas surdos e dos auxiliares do esporte paralímpico na lista dos contemplados. “A Bolsa Pódio é um instrumento fundamental para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento no Brasil, e que não se resume no apoio financeiro a esses talentos. É a consolidação do compromisso em promover a excelência esportiva e representar o país de forma digna em competições internacionais. Para este ano, foram 312 atletas olímpicos e paralímpicos oficializados, fruto de suas performances brilhantes em competições. A grande novidade é a presença de dois atletas surdos e quatro auxiliares do esporte paralímpico”, exalta o ministro.
DIREITO – Bronze nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 e ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015, o manauara Guilherme Costa acordou feliz ao saber que seu nome integra, mais uma vez, a lista de contemplados com a Bolsa Pódio no tênis de mesa. “Ao mesmo tempo que é um valor alto para a realidade brasileira, e sei disso, é condizente com o nível dos atletas que estão pleiteando, porque é um direito. Não é doação, não é caridade. Temos um gasto alto, um custo alto. Então, faz todo o sentido que os atletas da elite consigam se manter com esse apoio. E isso não impede, o que é uma coisa fantástica, de buscar outros patrocínios e até ter outras bolsas, estaduais ou distritais”, pontua Guilherme, que treina para garantir a vaga em Paris.
PASSO A PASSO – Quarto lugar na marcha atlética nos Jogos Rio 2016 e bronze nos 20km no Mundial de Londres 2017, o brasiliense Caio Bonfim conta que é impossível desassociar o Bolsa Atleta e a Bolsa Pódio de sua estrada como esportista. “Falar da Bolsa Atleta é falar da minha carreira. Eu iniciei no ano de 2007 e já nesse ano consegui ser contemplado pela Bolsa Atleta. Desde então, tenho sido beneficiário. Sempre digo que projeto bom, país bom, é aquele que dá oportunidade”, ressalta Caio. “A Bolsa Atleta dá oportunidade de você melhorar sua estrutura, de você melhorar como atleta. É um programa que torço a favor sempre e defendo, porque não ajudou só a minha carreira, mas muitas outras carreiras de outros atletas”, conclui o corredor.