Em encontro na última semana, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse ao presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), que o partido receberá ao menos um ministério no futuro governo. Caciques da sigla esperam ser contemplados, no entanto, com pelo menos três pastas.
O petista não esclareceu se nomearia a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como uma escolha pessoal ou se ela ocuparia uma vaga no primeiro escalão reservada à legenda. Lula e Baleia se reuniram na noite de segunda-feira no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde trabalha a equipe de transição.
Caso o pleito de emedebistas seja levado em conta por Lula, uma das cadeiras tende a ser ocupada por um senador da sigla, possivelmente o filho de Renan Calheiros, o recém-eleito, Renan Filho, ex-governador de Alagoas. Dessa forma, o PT contemplaria o clã, que trabalhou ativamente pela vitória do presidente eleito desde o primeiro turno.
O outro posto seria entregue a um deputado. Este poderia ser indicado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, que tem influência sobre a bancada da Câmara.
O terceiro ministério ficaria com Simone Tebet, que terminou o primeiro turno da corrida ao Palácio do Planalto em terceiro lugar e declarou apoio a Lula no segundo turno. O ingresso dela na campanha foi determinante para conquistar parte do eleitorado de centro, fundamental para a eleição do petista. No caso da senadora, o MDB trabalha para que Lula a considere uma escolha pessoal e assim conquistar um espaço mais generoso no governo.
Na conversa entre Lula e Baleia, o presidente eleito designou dois parlamentares da sua confiança para tratar com o MDB das questões relacionadas ao Congresso — Jaques Wagner (PT-BA), no Senado, e José Guimarães (PT-CE), na Câmara. A bancada de deputados emedebistas deverá acompanhar o PT e apoiar a reeleição do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Os petistas tentam formar o maior bloco partidário da Casa e assim ter direito a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante de todas. No Senado, o partido negocia a formação de um bloco com o União Brasil.
Desde que a transição começou a engrenar, há uma disputa velada nos bastidores entre o PT e Tebet. Correligionários de Lula veem com bons olhos a indicação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), para o Ministério de Desenvolvimento Social, pasta responsável pelo pagamento do Bolsa Família. Tebet, por sua vez, participa do grupo de transição relacionado ao tema e também é apontada como candidata à vaga. O PT teme, no entanto, que com o forte apelo eleitoral da pasta, ela se cacife para a disputa presidencial de 2026.
Diante da resistência do PT, integrantes do MDB aventam a possibilidade de a senadora dar uma guinada em seu plano inicial e apostar as suas fichas na pasta do Meio Ambiente. A área que ganhou mais importância nos últimos anos, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, cujas políticas voltadas ao setor foram duramente criticadas pela comunidade internacional. Nesse cenário, o próximo chefe da pasta deverá ter alta visibilidade. A disputa por esse ministério também é acirrada, com a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) e a ex-ministra Izabella Teixeira buscando a indicação.
O MDB tenta garantir relevância no futuro governo como forma de compensar a situação delicada que vive no Congresso. Dificilmente o partido vai conseguir lançar um nome competitivo para enfrentar Arthur Lira na disputa pela presidência da Câmara. No Senado, também há um alinhamento pelo apoio à recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao comando da Casa.
Na segunda-feira, a conversa de Lula com emedebistas durou mais de duas horas. A presença mais notada foi a do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que se sentou em frente ao presidente eleito e participou de toda a reunião. Hoje, ele é o nome mais cotado para assumir o Ministério da Fazenda a partir do ano que vem.
O MDB foi apenas o primeiro partido com o qual o presidente eleito decidiu se sentar nesta semana. Nos próximos dias, Lula deve se reunir com representantes da coligação formada por PSB, PV, PSOL e PCdoB, assim como do PSD. Também estão previstas conversas com Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como ocorreu anteontem, Haddad deverá acompanhar o correligionários nesses compromissos.
Na visão dos aliados do MDB, a ida de Lula a Brasília significa que o presidente eleito finalmente assumiu o comando da articulação política.
Após uma semana de indefinições, a equipe do governo de transição protocolou na segunda-feira, no Senado, a PEC da Transição, que abre espaço para o cumprimento de promessas de campanha, como a manutenção do pagamento do Bolsa Família de R$ 600. Também foi fechado que a federação formada por PT, PCdoB e PV apoiará a reeleição de Lira na Câmara.