Promovido pelo governo de Goiás, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), em parceria com o Gabinete de Políticas Sociais (GPS), o Simpósio Goiano Virtual Contra a Violência à Pessoa Idosa realizou, nesta terça-feira, 16, a primeira reunião virtual com palestras que fazem parte da campanha do Dia da Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado em 15 de junho. O evento foi transmitido pelo Facebook da Seds.
Devido ao isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19, o tema da campanha deste ano é direcionado a alertar sobre o risco do aumento da violência contra o idoso, especialmente a financeira, neste período.
“Tem nos chegado que houve um crescimento expressivo da violência financeira contra a pessoa idosa, que isolada fica ainda mais vulnerável às violações. Mas essa violência não está sendo denunciada aos órgãos de repressão, e acreditamos que seja por causa do isolamento social, que impede os idosos de saírem de casa. Os dados do Disque 100 revelam que mais de 80% das violações ocorrem nos domicílios”, observou a secretária de Desenvolvimento Social, Lúcia Vânia, na abertura da videoconferência, que foi acompanhada por quase 6 mil internautas e registrou 3,4 mil comentários.
Em Goiás, 39 dos 246 municípios têm uma grande parcela da população formada por idosos, responsáveis pela manutenção da economia doméstica e alvos da exploração de membros da família ou de terceiros. O segmento de pessoas idosas no estado é estimado em mais de 11% da população, de acordo com dados do IBGE.
Dentro desse contexto, a secretária Lúcia Vânia explicou por que é tão importante aumentar a vigilância em relação aos eventuais abusos que esses idosos possam vir a ser vítimas. “A Assistência Social está na linha de frente para garantir os direitos da pessoa idosa no enfrentamento à Covid-19.”
Palestras virtuais
O primeiro palestrante foi o promotor de Justiça de Defesa da Pessoa Idosa de Goiânia, Haroldo Caetano, que falou sobre o racismo estrutural. Segundo ele, é preciso pensar a violência de uma forma mais aberta, principalmente com atenção especial aos grupos preferidos pelos que praticam violência, como mulheres e a população negra, por exemplo. “Há também a preocupação com as pessoas idosas, pois fazem parte dos grupos historicamente vítimas de violência. Os idosos precisam ser resgatados como sujeitos, nessa sociedade complexa.”
Presidente do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe) de São Paulo, Marília Anselmo Viana fez críticas à violência patrimonial contra os idosos. Ela defendeu que é preciso romper os conluios familiares criados para praticar violência contra o idoso. “Não é fácil acabar com a violência contra a pessoa idosa. Muitas vezes, as pessoas idosas protegem quem lhes causa violência, por diversos motivos, sejam financeiros, afetivos. E esses idosos se sentem culpados e acham que erraram na criação dos familiares que os agridem”, pontuou Marília.
O defensor público do estado Philipe Arapian também foi palestrante e citou exemplos de políticas públicas que ajudam a combater e prevenir a violência contra os idosos. Ele questionou o comportamento brasileiro em relação às pessoas idosas. “Tratam o idoso como se ele atrapalhasse, como se fosse uma despesa para o país.”
Advogada militante no direito do idoso e membro da Associação Nacional de Gerontologia de Santa Catarina, Ariane Angioletti falou da importância do trabalho dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e dos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), e de como eles podem auxiliar nesse combate. Ela criticou as medidas que familiares e o poder público na maioria das vezes tomam quando há denúncias de maus tratos a idosos.
“Criam uma celeuma judicial. Não adianta só levar para a delegacia. É preciso usar os canais de denúncia. Não é judicializando os casos que se chegará a uma solução”, defendeu ela, ao ressaltar que leis como a Maria da Penha — relatada pela secretária Lúcia Vânia quando ela foi senadora — têm eficácia no combate e prevenção à violência. “Por que avançamos tanto no combate à violência contra a mulher e na contra o idoso, não?”, questionou Ariane.
Delegado-titular da Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso, Alexandre Alvim explicou que as delegacias são onde os idosos buscam o primeiro atendimento, mas, geralmente, quando já estão numa situação bem crítica. Por isso, ele defendeu que é necessário conscientizar a população, principalmente as vítimas, sobre o que é violência.
“Muitas vezes, nem o idoso sabe que está sendo vitima de violência. É preciso que a rede de proteção ao idoso esclareça e amplie o conhecimento da sociedade ao que é violência contra o idoso. Precisamos trabalhar juntos.”
Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa, Ignes Luzia Gardiola foi uma dos que falaram, também, sobre a saúde dos idosos. “Precisamos de uma política que engrandeça o idoso em nosso país. Essa população idosa é que trabalhou para o nosso país chegar até aqui”, disse ela.
“Muitas vezes, o papel da família é falho não por negligência, mas por falta de condições”, disse a representante do Grupo Viver Melhor, Juliana Junqueira, ao falar da importância de o estado oferecer apoio a essas famílias que estão, por quaisquer que sejam os motivos, incapazes de dar um cuidado ideal aos seus idosos.
A gerente de Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa, da Seds, Daniela Fernandes, finalizou as conversas do simpósio. Ela explicou aos participantes as medidas que o governo de Goiás vem adotando, antes e durante a pandemia, para combater a violência e, principalmente, proteger a saúde da pessoa idosa. “Todas as instituições de longa permanência para idosos já receberam equipamentos de proteção e higiene individual e materiais de limpeza para garantir o bem-estar dessas pessoas idosas assistidas diretamente pelo estado. Além de a Seds promover atividades para cuidar da parte psicológica dos idosos”, observou Daniela.