Em momento histórico para o bloco, Cúpula do Mercosul no Uruguai tem como ponto central a conclusão das negociações do Acordo de Parceria entre Mercosul e União Europeia
“Esta Cúpula tem um significado especial. Ela marca a conclusão das negociações do Acordo Mercosul-União Europeia, no qual nossos países investiram um enorme capital político e diplomático, por quase três décadas”, declarou o presidente Lula ao iniciar sua fala na 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Montevideo, no Uruguai. A Cúpula marcou o encerramento das negociações do Acordo de Parceria entre o Mercosul e a UE, após quase 30 anos de esforços.
Após dois anos de intensas tratativas, temos hoje um texto moderno e equilibrado, que reconhece as credenciais ambientais do Mercosul”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
A parceria com a União Europeia é o maior acordo comercial já concluído pelo Mercosul. Os dois blocos reúnem cerca de 718 milhões de pessoas e economias que, somadas, alcançam aproximadamente US$ 22 trilhões de dólares. “Estamos criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, reunindo mais de 700 milhões de pessoas. Nossas economias, juntas, representam um PIB de 22 trilhões de dólares”, destacou Lula, sinalizando o enorme impacto econômico do tratado.
O presidente brasileiro ressaltou a modernidade e o equilíbrio do texto final do Acordo, que reflete uma posição mais vantajosa para os países do bloco. “O Acordo que finalizamos hoje é bem diferente daquele anunciado em 2019. As condições que herdamos eram inaceitáveis. Foi preciso incorporar ao Acordo temas de alta relevância para o Mercosul”, disse Lula.
Com a revisão do texto, foram incluídos temas importantes para o Mercosul, como a preservação de interesses em compras governamentais, o prolongamento da abertura do mercado automotivo e a criação de mecanismos para evitar retirada unilateral de concessões. “Após dois anos de intensas tratativas, temos hoje um texto moderno e equilibrado, que reconhece as credenciais ambientais do Mercosul e reforça nosso compromisso com os Acordos de Paris”, disse Lula.
Após mais de duas décadas, concluímos as negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Após cerca de 25 anos de negociações, o acordo com a União Europeia foi apresentado como uma conquista histórica e reafirma a relevância global do Mercosul. “A realidade geopolítica e econômica global nos mostra que a integração fortalece nossas sociedades, moderniza nossas estruturas produtivas e promove nossa inserção mais competitiva no mundo”, afirmou o presidente.
Os dois blocos acordaram compromissos em matéria de desenvolvimento sustentável que adotam abordagem colaborativa e equilibrada, reconhecendo que os desafios nessa área são comuns e devem ser enfrentados de forma cooperativa. O Acordo ainda contribui para aprofundar a integração regional do Mercosul, que comprova sua vocação como uma plataforma eficiente de inserção das economias de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai em mercados externos. O resultado alcançado pelas duas regiões é transformador tanto da perspectiva econômica quanto política, além de reforçar o Mercosul como plataforma de inserção internacional de seus Estados Partes.
O vice-presidente Geraldo Alckmin destacou que o acordo bilateral é resultado de diálogo e de uma boa política. “E ele ocorre após mais de 20 anos de negociação. Há um grande significado nisso, em um mundo polarizado e fragmentado”, ressaltou.
UNIÃO EUROPEIA – Também na manhã desta sexta-feira, durante coletiva de imprensa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou a importância política, econômica e ambiental da aliança, que fortalece laços históricos e estabelece um modelo de cooperação para o futuro. “O laço entre a Europa e os países do Mercosul é realmente um dos mais fortes do mundo. É um laço que se ancora na confiança e está atravessado por uma herança compartilhada que acarreta séculos de aprendizagem mútua”, disse von der Leyen.
NECESSIDADE POLÍTICA – Segundo ela, em um mundo cada vez mais marcado por confrontos, o Acordo representa um exemplo de como as democracias podem se unir. “Este acordo não é apenas uma oportunidade econômica, é uma necessidade política. Somos parceiros com mentalidades comuns que têm raízes comuns, temos uma história interligada, uma cultura interligada”, disse a líder da Comissão Europeia.
AMAZÔNIA — A presidente Ursula destacou que o Acordo trará vantagens de negócios para 60 mil empresas europeias que exportam para o Mercosul, sendo que 30 mil são pequenas e médias empresas. Von der Leyen também ressaltou a importância de preservar a Amazônia e reconheceu os esforços do presidente Lula para proteger o bioma. “Preservar a Amazônia é uma responsabilidade compartilhada de toda a humanidade, e este acordo nos garante que os investimentos respeitem o patrimônio natural que o Mercosul tem”, afirmou.
MUNDO QUE SE ABRE – O presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, também celebrou o acordo com a União Europeia. Ele reconhece que o acordo é um marco comercial, mas que também vai além disso. “Não é apenas um intercâmbio comercial, que o é, talvez de forma mais importante. Para nossos países, talvez os países de economia menor, é importantíssimo que o mundo se abra para nós. Mas há alguns elementos com a Europa que nos unem além do comercial”, ressaltou Lacalle, que falou sob a presidência pro tempore do Mercosul.
COMÉRCIO EXTERIOR – Durante seu discurso, Lula fez menção ao reposicionamento do Mercosul no comércio internacional. O acordo com a União Europeia facilita a entrada de produtos do Mercosul na Europa, oferecendo novas oportunidades de exportação.
COOPERAÇÃO – O presidente também destacou outros acordos, como com Singapura e, futuramente, com os Emirados Árabes Unidos. “Com os Emirados Árabes Unidos, as negociações estão avançando rapidamente e devem ser concluídas ainda em 2025. A possibilidade de ampliar a cooperação econômica e tecnológica com a China, Japão, Vietnã e outros mercados da Ásia resultará em benefícios para todos os membros do bloco”, disse Lula.
QUALIDADE – O líder brasileiro também defendeu a qualidade e segurança dos produtos do Mercosul e afirmou que o bloco é exemplo em desenvolvimento econômico e responsabilidade com o meio ambiente. “Não aceitaremos que tentem difamar a reconhecida qualidade e segurança dos nossos produtos. O Mercosul é um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental”, salientou o presidente.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL – Lula, assim como em todos os seus discursos, reforçou a participação da sociedade nos debates do bloco. Para ele, o crescimento sustentável e os Direitos Humanos andam lado a lado. “Promover a igualdade de gênero, o combate ao racismo, fomentar a educação e a justiça social não são gastos, são investimentos no potencial humano dos nossos países. Este é o modelo de integração que defendemos: orientado para a redução das desigualdades, dentro dos países e entre eles”, afirmou Lula.