Por videoconferência, Lula discursa na 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, na Rússia

Presidente ressaltou a força econômica do bloco, afirmou que o BRICS tem papel fundamental no combate às mudanças climáticas e defendeu discussões que possam levar à adoção de meios de pagamentos alternativos nas transações entre nações

Impedido de viajar a Kazan, na Rússia, onde planejava participar da 16ª Cúpula do BRICS, após um acidente doméstico no sábado (dia 19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou por videoconferência na Sessão Plenária Aberta da reunião, nesta quarta-feira, 23 de outubro.

“O BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões (de dólares) anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República

Ao se dirigir aos chefes de Estado e demais membros das delegações dos países que compõem o bloco, Lula ressaltou a força do BRICS no combate às mudanças climáticas e destacou seu papel na economia global. Lula também frisou a necessidade de um trabalho em conjunto que possa levar ao fim dos conflitos hoje em curso no Oriente Médio e na Europa.

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Íntegra do discurso do presidente Lula, por videoconferência, na 16ª Cúpula do BRICS

“Mesmo sem estar pessoalmente em Kazan, quero registrar minha satisfação em me dirigir aos companheiros do BRICS”, saudou o presidente. “O BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões (de dólares) anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”, declarou.

Seis anos após a última gestão à frente do BRICS, o Brasil voltará a comandar o grupo a partir de 1º de janeiro do próximo ano. De acordo com Lula, na presidência brasileira será reafirmada a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países. O lema da presidência brasileira será “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”.

“Não podemos aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas e medicamentos, como ocorreu na pandemia, nem no desenvolvimento da Inteligência Artificial, que caminha para tornar-se privilégio de poucos. Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados”, ressaltou o presidente.

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ECONOMIA – Em Kazan, o BRICS realiza sua primeira cúpula de líderes com a participação dos quatro novos membros que ingressaram este ano: Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia. Até o ano passado, o bloco era formado apenas por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ao destacar a importância do BRICS para a economia mundial, Lula alertou que é preciso que “a voz dos governos prepondere sobre interesses privados” e disse que é preciso “fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes”.

“O BRICS foi responsável por parcela significativa do crescimento econômico mundial nas últimas décadas. Juntos, somos mais de 3,6 bilhões de pessoas, que integram mercados dinâmicos com elevada mobilidade social. Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite. As exportações brasileiras para os países do BRICS cresceram doze vezes entre 2003 e 2023. O BRICS é hoje a origem de quase um terço das importações do Brasil”, lembrou o presidente brasileiro.

PAGAMENTO ALTERNATIVOS — Lula também defendeu a adoção de meio de pagamentos alternativos nas transações entre as nações do BRICS e disse que é preciso um debate intenso sobre este tema. “Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”.

NEGOCIAÇÕES DE PAZ — O presidente do Brasil reafirmou que é preciso um esforço global capaz de encerrar os conflitos em curso, que vitimam milhares de inocentes. “No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”.

FOME E POBREZA — Lula também agradeceu o apoio recebido à presidência brasileira do G20 e convidou as nações do bloco a se juntarem à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza: “nossos países implementaram nas últimas décadas políticas sociais exitosas que podem servir de exemplo para o resto do mundo. A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza já está em fase avançada de adesões. Convido todos a se somarem à iniciativa, que nasceu no G20, mas está aberta a outros participantes”.

Ao encerrar seu discurso, Lula agradeceu ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, anfitrião da 16ª Cúpula do BRICS, pela chance de participar do encontro por videoconferência e disse que espera receber todos em 2025 no Brasil. “Espero vê-los na próxima Cúpula para construir mais um capítulo da nossa história comum. Muito obrigado presidente Putin e muito obrigado aos companheiros que estão em Kazan”, encerrou.

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